dimanche, mars 30, 2003

De tempos em tempos (a cada 5min, talvez) me é necessária uma decantação. Do que? Muito provavelmente dos resíduos dos meus próprios processos, coisas que vão criando um ranço auto-inflingido, pequenos mas incômodos vícios, manias das quais não consigo me livrar.
Coisa pertinente é essa metáfora de outrem, dita em primeira pessoa: "estava bebendo água numa garrafinha de plástico, e pus meus olhos em duas gotas que sobraram. Quando comecei a mexer a garrafa, uma das gotas rodava sobre si mesma, enquanto a outra ia vagarosamente em direção a esta, e por fim elas se juntaram e formaram uma gota grande". A questão, no caso, é tanto a da gota giratória quanto a que persiste no seu caminho obstinado e reto. Não sei qual dos dois movimentos é o mais legítimo, e tampouco sei qual deles é que realmente me representa. Infelizmente eu me vejo na porção ruim da roda da fortuna: girando sempre, a repetir situações, a passar sempre pelas mesmas dificuldades, decorrentes dos mesmos erros. Uma prisão cíclica, se bem que isso é uma redundância, pois quando estamos aprisionados, não vemos o tempo passar, logo ele perde a seqüência lógica que parece ter quando estamos livres. É nesse ciclo que me encontro, apesar de no fim achar que terei traçado uma linha reta sem paralelos que um dia se encontrarão.

Mudando de assunto, eu acho muito poética a palavra "desdita".

samedi, mars 29, 2003

Carol Rigby voltou de Buenos Aires com força total. Tá todo mundo mudando de endereço, e estou descobrindo coisas novas, como por exemplo a profundidade reflexiva da srta. Emma Bovary, mais uma que como eu, prefere o aconchego do anonimato (e isso seria um trocadilho se vocês soubessem que aqui em Santos tem um motel chamado "Anonimato").
Acordei cedinho, hoje, muito cedinho, com a desafiante tarefa de acordar alguém. E fui ao café onde minha mãe trabalha... e passei a manhã lendo e tomando um cafezinho expresso que ela mesma me preparou, com a sua aprendiz habilidade de mexer naquela máquina. No caminho, encontrei uma amiga que não via há muitos anos, e eu estava com tanto sono que tive a impressão de que foi sonho, ainda mais quando ela me contou que há anos, sua mãe estava morando na Suíça. Nada me pareceu tão díspar de qualquer realidade anterior, mas achei legal. Quando nos telefonarmos, procurarei saber dos detalhes.
Hoje uma coisa de importância menor também me intrigou. Vocês comprariam uma caixa de leite que não tivesse a cor branca, ou azul? Abri o armário e havia uma caixa assim no meu armário, toda vermelha, amarela e laranja, e tive de procurar na embalagem a expressão "leite in natura" para confirmar se poderia bebê-lo ou não. Não sabia se aquilo era leite mesmo, ou leite com chocolate, ou qualquer outra coisa. Estranho se dar conta que a mente está tão acostumada a certos padrões, que qualquer desvio disso provoca uma estranheza sem precedentes. Achei interessante, mas esse leite não vai vender, mesmo sabendo que o apelo do preço baixo, hoje em dia, é mais convincente do que qualquer outra coisa.

jeudi, mars 27, 2003

Friozinho gostoso, tosses secas chatas, gente querida fazendo coisas lindas pelos outros... certas coisas me comovem, me enchem de uma estima sempre maior.
Show do Danilo Caymmi. Bem gostosinho, bem feitinho, competentezinho. Mas enfim, aquela coisa: Iemanjá, odoiá em duas músicas diferentes, Gabriela pra cá, Acarajé pra cá, mas o cara é simpático e tem um jeito atrapalhado. O que achei curioso é que parece que ele vive em função das produções dramatúrgicas da Globo. É Riacho Doce, Teresa Batista, Porto dos Milagres (lembrei de Guma, agora, ui...rs), tudo feito para ilustrar melodicamente aqueles sotaques mal e porcamente reproduzidos, a dar a entender que todo mundo na Bahia vive deitado em rede, e ou pesca, ou toma água de côco ou é um coronel. Putz.

mardi, mars 25, 2003

Minha garganta não melhorou, mas o sol voltou depois de uma manhã inteira de chuva. Acordei com uma voz já familiar que dava-me as boas vindas do dia, não poderia ter acordado de melhor maneira. Os dias que esperei não foram em vão. Fui acusada de frieza, de distância, mas era uma inquietação que não procedia. Tudo o que queria era um simples dengo para que tudo se umedecesse, se amaciasse e se tornasse novamente o território íntimo do bem-estar, do desprendimento e da desenvoltura. Queria esse sujeito-objeto nos meus braços, na hora excitada de um despertar comum, de um "bom dia" dado com olhar sugestivo, de um sorriso seguido de ruídos afins ao ronronar de um gato preguiçoso...
E do lado de fora da moldura da janela em que chovia no quadro nada estático, que era o lado de dentro, o meu quarto, segui minha leitura embalada pelo frescor da manhã, pelo sono se ausentando do meu corpo...

O que estou lendo? Nada poético, nada analítico, "A Vida Sexual de Catherine M.", que prescinde de explicações, que é quase um episódio de um documentário da Discovery. Eu não invejo a vida sexual de Catherine, mas invejo seu desprendimento de toda a culpa e todo o medo. Queria ter essa mesma atitude em relação a outras coisas que não o sexo. Vou teorizar mais a respeito, depois volto.

lundi, mars 24, 2003

Puta da vida com tudo. Sem sono, garganta inflamada, nada o que dizer, nada o que pensar. Tudo parece ser uma soma de coisas que têm por essência comum o nada. A insignificância, coisa essa que ainda assim me afeta.
É um quase amanhecer de um dia de outono, já está frio, novamente eu vou me enfiar em uma ostra. O verão passou, e com esse fim de verão, fechado tradicionalmente pelas águas de março, percebo o quanto sou ligada a estes bobos estereótipos estivais, de que o verão é ensolarado e tem de ser alegremente aproveitado, mas meu verão foi pontuado de coisas nefastas e fúnebres, literalmente. Meu pai foi o exemplo mais vívido disso. Mas não só. Outras coisas morreram. Parte da crença (sim, uma crença tão infundada como qualquer religião idiota) em que amigos são para sempre, em que as pessoas que a gente ama são sempre irrepreensíveis no quesito fidelidade, e nem falo da fidelidade sexual, pois acho que é a menos importante. Pessoas que eu amava de maneira maior sumiram. Evaporaram da minha vida, tanto de maneiras despresíveis quanto dolorosas. Esse foi o verão da morte, de todas. E no entanto, minhas faces, aquelas que queria mortas e enterradas, vivem, ou são zumbis de mim mesma.
Sinto que todos representam comigo, incapaz de não representar também, eu mesma.

dimanche, mars 23, 2003

Domingo destinado a suportar as conseqüências das extravagâncias da noite anterior.
Dancei tanto que arranjei uma bolha enorme no pé. Mas amei: Joy Division, Soft Cell, Duran Duran, Culture Club, Madonna, New Order, Depeche Mode... só as coisas que eu curtia horrores aos sete anos de idade. E gente bonita, muitas delas. Vontade de ir lá sempre, but...
Festa anos 80 é sempre o que há. Com aquelas músicas, ninguém precisa de hoje.

samedi, mars 22, 2003

Estou ouvindo um cd da Elis, ao vivo. Mulher surpreendente, incrível, mais que incrível, quase incompreensível, ou apenas (e mais importante) visceralmente compreensível.
Sonhos, é, há quanto tempo. Sonhei com F., que não andava na minha cabeça já há muito tempo. Sonhei que ela estava dentro de um caminhão, com o pai e o irmão, e que não morava mais com D., e que pareceu confusa, mas depois alegre em me ver. Não sei como eu mesma me sentiria se a visse de novo, e talvez nem queira saber.
Ganhei duas blusinhas lindas ontem... mas usáveis no verão. E o outono começou hoje, com uma cara bem típica. Em Curitiba, o frio já mostra a ponta do seu nariz, e mais ao sul, ainda, o frio deve estar pior. Toda a cor da natureza vai arrefecendo, os hábitos tornam-se mais discretos e internos, as conquistas dar-se-ão menos à beira da praia que no interior de uma discoteca... e cada inverno para mim é uma jornada em mim, é hora de mastigar e digerir o meu revelador verão, vivo em cores mas literalmente sepulcral, cheio de acontecimentos que abalaram minhas estruturas, se é que eu as tenho.
Em Santos o dia é nublado, as chuvas são esparsas mas fortes, e lá no norte, no oriente, o dia é nublado da fumaça da morte. :-(
Ouvir "Travessia" era tudo que eu não deveria ter feito hoje.

vendredi, mars 21, 2003

Depois de toda uma semana útil sem postar, aqui estou, ainda que não tenha muito o que dizer. Não que tenha feito muita coisa. Só escrevi e li, basicamente, embora não aqui... terminei um livro de 500 páginas, fiquei preocupada com a possibilidade de ter magoado alguém querido... eu normalmente faço isso devido a uma falta de jeito típica de mim. Tomei café na rua XV, coisa que sempre me é muito agradável... e pensei pouco na vida, pelo menos na minha. Pensei, inevitavelmente, na burrice dessa guerra, escrevi sobre isso, embora não aqui, pois por aqui, sempre permaneço no círculo íntimo e pessoal da minha existência, e de algumas outras que me rodeiam...
Mas de certa forma, andei ocupada, e se isso me afasta daqui, por outro lado é bom, visto que recorro a essas linhas por causa da minha constante inquietação de espírito.
Continuo na minha ostra.

lundi, mars 17, 2003

Belezura de fim de semana... é claro que eu oscilo entre curtir um momento que é bom, e ficar de mau-humor o resto do tempo, mas enfim. Multiplas ligações de pessoas longinquamente queridas. Nordeste, Bauru, Jequitinhonha, Cananéia. Deus meu, e tudo de uma vez só. Saudades, saudades e me sinto querida e querendo bem. TE VOGLIO BENE, aliás.
E ainda o churrasquinho do Coral, e ainda ler e escrever e sorrir e tomar chopp rosé. E enviar o Cápsula. Mas nenhuma reflexão, não, nada. Meu findi não foi melancólico ou surpreendente, no fim, isso acaba soando como um diarinho...rs.
Salvador, né? Por que não? :-)

vendredi, mars 14, 2003

Matei a saudade do meu pai, nos meus sonhos. Ele sempre é alguém que já é morto, que é um fantasma de carne, osso e emoção. Eu fui à sua ex-casa e ele estava lá, deitado na cama e lendo, nunca tão magro como ele estava quando morreu. Entrei, e ele não percebeu, mas aí disse: "pai?", e ele se levantou e sorriu, e eu ignorei o fato estranho de estar vendo um homem morto, e o abracei bem forte. Conversamos, comemos, sorrimos, e eu acho que estava lá, mas em breve viajaria para Minas com um rapaz, a fim de acamparmos. Ver meu pai em sonhos é fonte de alegria intensa, já disse. Acho é que morro de saudade dele, e nunca fico triste quando estou acordada, mas intensamente alegre quando durmo e o resgato de alguma maneira.
Sonhei também que estava deitada e beijava uma menina de cabelos chanel e olhos claros.
Tanta coisa pra fazer e tão pouca disposição... e eu achando que o calor havia passado.

mercredi, mars 12, 2003

Nada de sonhos, hoje. Não lembro de nada. Eu e meu sono leve de janela escancarada. Tá sendo muito difícil dormir no meu quarto, eu que sou um ser da escuridão, quase intra-uterina, tendo de conviver com a claridade que com o fim do horário de verão, começa mais cedo. O sono anda leve, leve, embalado pelos ruídos matinais que já não têm barreira: os pintos piando, os cachorros latindo, as lavadeiras do meu prédio e arredores dando ao ambiente um ar de cortiço, a serra do marceneiro e as brincadeiras puerilmente masculinas dos rapazes da Assistência Técnica de computadores, que aliás já salvaram, a um preço nada módico, esse coitado, instrumento das minhas sandices. Daí eu fico com essa cara de zumbi o dia todo. Eu não tenho lá muita disposição em permitir que a luz do dia seja o meu despertador. Mas deveria, né? Porque o amanhecer é sempre bem bonito. Se o pôr-do-sol do Guaíba é o mais bonito do Brasil, a aurora mais bonita é a da minha cidade, mesmo, com um sol surpreendente que surge por detrás dos prédios na avenida da praia, e antes de mais nada, ilumina as ondas que se formam na rebentação. E eu não trocaria isso por nada? Trocaria. Sou como algum canditato da cabine do Sílvio Santos, dizendo "sim" pra tudo.
Ai, que pesadelo. Sonhei com certas pessoas à minha volta, que me inflingiam um apedrejamento moral, com dia e hora marcada, como um pelotão de execução. O pior é que a acusação escrota eu sofri em realidade, mas na verdade, havia um motivo implícito no ódio contido nos olhos daquelas pessoas conhecidas que eu não conseguia reconhecer. Coisa estranha, essa. Eu nunca tinha dado pra ter medo desse tal preconceito, mas agora ele anda à espreita e tenho medo de que me cace com tanta violência quanto a sua própria violência intrínseca. Ando com medo. Medo de uma neurose coletiva e individual ao estilo das "Bruxas de Salém" de Arthur Miller.

Mas, enfim, foi só um sonho ruim, e enquanto estou acordada, hoje, penso, leio e sinto coisas boas. Blog novo no meu repertório, aliás. É o da Luz Fernandez, que me descobriu através do diretório Blog-se, e é daqui de Santos. Eu não sou muito leitora dos blogs santistas, e isso é uma ausência de hábito que eu preciso corrigir...rs. Eu gostei de lá, e gostei de ela ter gostado daqui... :-)

mardi, mars 11, 2003

Sinto em meu corpo o impacto de todas as nuanças fisiológicas destes dias de maré vermelha. Ser mulher (mas é quase só por acaso que falo disto pouco depois do nosso dia internacional) é sempre contraditório. Doçura, rudeza, decepção, prazer, tudo isso os homens também têm, mas acredito que sejam vivências de outro tipo, que escapando à porção individual, acabam realmente se enquadrando na suposta "natureza" de cada gênero. O fato é que essa natureza não é de origem biológica. Homens e mulheres, e isso nem é novo, não são diferentes emocionalmente por qualquer determinação biológica, mas unicamente por toda uma série de padrões que todas as civilizações e sociedades as mais diversas talharam. Diferenças arraigadas e englobadas, assimiladas com dor, na maior parte das vezes, mas até admissíveis, se não fosse pela violência que sofre tudo o que de forma também quase natural, escapa dessas duas grandes vertentes, masculina e feminina.
Tudo isso eu comecei pensando na palavra contradição. Mas a única coisa que de fato eu queria dizer, é que na noite passada sonhei que estava grávida, e que pela primeira vez sentia meu bebê fazer movimentos dentro do meu ventre. Logo agora que estou menstruada. Ufa... rs.
A Fernanda, do Recheio de Que?, está de volta. Como ela escreve muito bem e é muito querida, recomendo uma passadinha básica lá no seu blógue.

***************************************


Saudade, saudade tão gostosa que anda pulsando em vários lugares pulsáveis. É uma saudade sutil que se derrama na minha pele, e me faz pensar na música e na voz de Norah Jones, naquela música "I don't know why". Saudade apenas expressável em recadinhos. Mas... :-)

vendredi, mars 07, 2003

O carnaval acabou, as águas de março, ainda que só uma vez, vieram para levar o verão, o sol brilha, minha pele está bronzeada (mas logo desbota...rs), eu tranqüila por dentro porque me diverti no carnaval, tive um carnaval leve, feito de conversas com amigos, de mar, de cerveja, de sol, de estrelas, nada além dessas coisas tão pouco rebuscadas que têm muito valor quando não se tem muito consciência delas, mas eu nem sei o que estou dizendo. Ando sucinta, sonhando muito e sem lembranças suficientes para transcrevê-los aqui. Mas essa noite sonhei com a velha J., a uma distância segura... quando sonhava com ela, era sempre a pessoa que eu amava, independentemente das situações esdrúxulas dos sonhos. Agora, nas minhas quimeras, eu não amo ninguém além de mim mesma (ou talvez nem a mim mesma), e quando ela está lá, é um corpo em movimento a ser observado de muito longe. E agora 15 dias me separam de uma nova letra, uma nova história ou talvez nem mesmo nada disso, mas de qualquer maneira, as coisas acontecem para me provar que o fluxo do rio da nossa vida não cessa nunca, e agora, talvez um pouco mais que sempre, sei que as coisas vêm e vão, ainda que num dado recorte da realidade e do tempo, algo sempre está vindo ao mesmo tempo que está indo, ainda que não seja a coisa necessariamente mesma. Por isso, números de telefone são trocados e a gente nunca descobre, uma ligação soa perto do meio-dia e a atendemos com um sorriso, e tudo isso no espaço de uma hora na nossa existência, que dirá o resto dela? As coisas vão, vêm, e é inevitável a transitoriedade de nós mesmos. Mas que bom que existem as lembranças e a saudade que até do futuro temos.

mercredi, mars 05, 2003

Sinto-me novamente à deriva, vendo apenas mar e céu, à superfície de algo assustadoramente profundo.
Sinto minha sordidez vindo à tona.
Olho para as linhas das minhas mãos e elas podem dizer duas coisas: ou que não vou viver muito tempo, ou que quase vou morrer mas não vou, e que depois disso vou continuar mais um tanto. Eu não sei mais nada. Acho que prefiro a primeira opção. Acho que prefiro a primeira opção agora.

Quando mudei o lay-out do blog, não suspeitava a minha difiuldade para pisar em terra firme. Para ser terra firme, apesar do desejo. Touro, ascendente Virgem, Lua em Aquário? É nisso que dá.

dimanche, mars 02, 2003

25 dias é coisa rápida. Assim espero. Queimada de sol como há muito não ficava, e olha que isso não é nada. Um mar azul mediterrâneo, com a água ao nível do peito e mesmo assim dando pra enxergar os pés no fundo, um mar de temperatura deliciosa, e logo depois uma piscina fresquinha. Esse foi meu domingo ao lado de R., no Guarujá, ao reecontrar alguns amigos queridos de Bauru. Talvez amanhã possamos ir um pouco além, até Camburi. Eu havia prometido ir à praia neste verão e consegui vencer a apatia e realmente fazê-lo. Um viva ao mar azul. Estou tonta de sono...